segunda-feira, 25 de março de 2013

Cientista de dados é profissão do futuro


Companhias precisam de pessoas boas em matemática e estatística, que dominem tecnologias digitais e saibam transformar informações em negócios.

Edileuza Soares

22 de março de 2013 - 07h30
Apaixonado por números, o estatístico Julio Guedes aprendeu em seus 17 anos de experiência no mercado financeiro a analisar grandes bancos de dados para encontrar informações que possam aumentar a lucratividade dos negócios. Com essa habilidade, ele tornou-se cientista de dados e ocupa atualmente o cargo de gerente-executivo de Analytics e Data Intelligence para a América Latina da Serasa Experian, onde é desafiado diariamente pelo fenômeno do Big Data.

A companhia onde Guedes trabalha processa mais de 6 milhões de consultas por dia para atender os mais de 500 mil clientes direitos e indiretos. Para tentar extrair ouro dessa grande mina de dados e dar inteligência aos negócios, o executivo conta com ajuda de uma equipe de mais de cem especialistas em Big Data distribuídos pela América Latina, sendo que 70 estão baseados no Brasil.
O desafio desse cientista de dados é capturar informações em tempo real, sendo a maioria não-estruturadas, como as publicadas em redes sociais, sites e nos diferentes Diários Oficiais. Guedes filtra tudo, cruza, analisa com os diversos bancos de dados da companhia e entrega relatórios valiosos que apóiam as estratégias de negócios. Desse trabalho surgem novos produtos que a Serasa Experian vende para seus clientes com a proposta de ajudá-los a reduzir o risco na concessão de crédito e coibir operações fraudulentas.
“Checamos se as pessoas que estão fazendo novas compras são realmente quem dizem ser”, explica Guedes, destacando que esse trabalho diminui calotes no mercado. “Dar crédito para inadimplente é um problema e trava a economia”, avalia o executivo. Ele considera que o cientista de dados é peça-chave para as companhias que operam com grandes massas de informações. Na sua visão, esse profissional é a conexão com o mercado porque transforma dados em negócios.
Profissionais como Guedes estão sendo muito demandados pelo mercado. Com aumento do interesse das organizações pela implementação de projetos de Big Data, a profissão de cientista de dados ganhou importância e se tornou uma carreira promissora, tendo sido considerada pela revista Harvard Busines Review como o emprego mais sexy do século 21.
Esses talentos estão sendo recrutados por empresas como PayPal, Amazon e HP. Os departamentos de TI também estão procurando por cientistas de dados e especialistas em ferramentas Hadoop, projetadas para uso intensivo de dados e aplicações distribuída e adotadas por sites populares como o Yahoo, Facebook, LinkedIn e eBay. As oportunidades de trabalho para esses profissionais estão surgindo em todos os setores, entre eles varejo, finanças, energia, saúde, utilities e mídia.
Porém, como se trata de uma profissão nova, achar gente com esse tipo de capacitação não é tarefa fácil. Especialmente no Brasil, onde há déficit de talentos qualificados em TI. A procura por cientista de dados vai crescer, alerta o instituto de pesquisas Gartner. Segundo estudos da consultoria, a ampliação das iniciativas de Big Data exigirá a contratação de um exército de 4,4 milhões de especialistas nessa área em todo o mundo até 2015.
Segundo Peter Sondergaard, vice-presidente sênior do Gartner, ter profissionais especializados para dar suporte a Big Data é um desafio global. Ele constata que os sistemas de educação tanto públicos quanto privados são falhos e não têm como formar essa quantidade de profissionais na velocidade que as empresas precisam.
“Essa área vai movimentar a economia no mundo todo, mas apenas um terço dos cargos será preenchido”, estima Sondergaard. Ele prevê que os especialistas em dados serão muito valorizados no mercado global. Das 4,4 milhões de oportunidades que serão geradas, 1,9 milhão serão oferecidas na América do Norte, 1,2 milhão serão abertas na Europa Ocidental e o 1,3 milhão restante será distribuído pela Ásia/Pacifico e América Latina.
Pelas projeções do Gartner, o Brasil deverá abrir 500 mil vagas para profissionais com habilidades em Big Data nesse período. O problema é onde buscar esses talentos, considerados uma preciosidade não só aqui, mas também no mercado externo.
Busca por especialização
As universidades do Brasil ainda não oferecem graduação para formação de cientistas de dados. Os Estados Unidos estão um passo adiante e algumas instituições estão criando cursos nesse nível para os que querem seguir a carreira. Por aqui, os programas oferecidos são mais no campo da pós-graduação. A Serasa Experian, por exemplo, resolveu criar um curso sob medida para capacitar seus talentos em Big Data.
A empresa fechou uma parceria com a Fundação Instituto de Administração (FIA) da Universidade de São Paulo (USP) para oferecer uma pós-graduação em “Inteligência Analítica”, com duração de 18 meses. O curso começou no ano passado, mas por enquanto é fechado para funcionários da companhia. A empresa tem intenção de abrir essa especialização para o mercado.
A Escola de Matemática Aplicada (Emap) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro também está oferecendo especialização em Big Data pelo seu programa de pós-graduação. O mestrado é em Modelagem Matemática da Informação, tem duração de dois anos e engloba disciplinas de Matemática Aplicada, Ciência da Informação e Ciência da Computação.
O coordenador da pós-graduação da Emap FGV, Renato Rocha Souza, explica que o mestrado foi criado para atender a demanda por profissionais com habilidades em Big Data no Brasil. O curso tem o objetivo de apresentar aos alunos as diferentes técnicas de data mining, processo de exploração e mineração de dados para tentar preencher a lacuna existente pela falta de graduação nessa área.
Segundo Souza, os que procuram a pós-graduação da Emap FGV são geralmente profissionais de áreas técnicas e os que “gostam” de números como engenheiros, matemáticos, estatísticos, cientistas da computação e economistas. São alunos que procuram o curso em busca de novas oportunidades do mercado de trabalho.
De acordo com o professor, esses talentos têm sido bastante requisitados pelas empresas e ganham bons salários. Alunos do curso estão trabalhando em organizações como Petrobras e Gávea Investimentos. “Temos visto universidades oferecendo mestrado em Big Data porque é mais fácil misturar as matérias que são importantes para o currículo”, constata Pedro Desouza, cientista de dados brasileiro, que exerce o cargo de gerente sênior de Consultoria Inteligência de Negócios da EMC, baseado em Dallas, nos Estados Unidos.
Competências necessárias
O cientista de dados tem de saber programação, ser capaz de criar modelos estatísticos e ter o conhecimento e domínio apropriado de negócios. Precisa também compreender as diferentes plataformas de Big Data e como elas funcionam. Usualmente esse profissional é formado em estatística, matemática ou ciências da computação.
Desouza explica que cientista de dados tem capacidade analítica para identificar informações de valor e fazer previsões de situações com base na tecnologia de Big Data. Ele tem de transformar tabelas de números em palavras e ser bom em comunicação para traduzir dados na linguagem dos negócios.
“O cientista de dados também precisa ter muita criatividade para conseguir construir gráficos bonitos, com boa visualização e que possam ser compreendidos pelos clientes. Eles têm de saber transformar cem tabelas em duas com dados fáceis de serem interpretados”, ensina Desouza.
É para ajudar na formação desses profissionais que a EMC promoveu em janeiro no Brasil a primeira edição da Summer School on Big Data (Escola de Verão EMC em Big Data). O curso gratuito de uma semana recebeu cerca de 700 inscrições, sendo que 160 foram selecionados para participar das aulas.
O programa reuniu pesquisadores, estudantes de pós-graduação e profissionais interessados em atuar nessa área. Segundo Angelo Ciarlini, gerente de Pesquisa do Centro de Pesquisa & Desenvolvimento em Big Data da EMC, a Escola de Verão teve o objetivo incentivar a pesquisa em Big Data no Brasil e formar especialistas no assunto.

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